5 meses passaram.
182 dias passaram.
4368 horas passaram.
Passou o Natal, o final de ano, o Carnaval, a Páscoa...etc. E Ela ainda permanece num estado que só Ela sabe, que só Ela sente.
89 anos passaram e vejo que estes últimos tempos são quase tão difíceis de lutar como na 1º Guerra Mundial.
Mas Ela permanece. Ela luta dia-a-dia pela sua sobrevivência. Se ainda vale a pena? Já dizia o outro 'Vale sempre a pena quando a alma não é pequena'.
Observei-a durante alguns minutos e fixei o meu olhar no seu. Estava pálida, com o olhar fixo naquele tecto branco imundo. Por momentos fechei-me e reflecti no que estaria a pensar naquele momento. Fiz 1001 perguntas a mim própria questionando-me se saberia que estava ali a olhar por si, à espera de um só suspiro, de uma só palavra, de um simples 'Ai', que eu tanto me cansei de ouvir quando se queixava vezes sem conta.
- Avó sente muita dor?
- Não.
- Então tanto 'Ai' seguido porquê?
- Porque me apetece. Quero ir para casa...
- Mas está em casa Avó.
- Não, não...
Agora entendo. Antes não percebi e vim embora dando um beijo na sua testa.
Sinto saudades da sua voz, das histórias que me contava quando era pequenina, dos passeios pelo parque de campismo logo pela manhã, do seu radio a tocar fados baixinhos durante a noite e até mesmo do seu ressonar! Se voltava atrás? Oh, se voltava!
Agora resta-me as lembranças.
Peço desculpa se não a vou visitar mais vezes, se não estou presente tanto como gostaria de estar..
O cheiro do Éter foi óbstáculo que ultrapassei, mas vê-la num estado que nunca pensei vir a ver, torna-se maior de ultrapassar.
Todas as noites digo o que a Avó me ensinou e sinto que me dá vontade de seguir em frente com a cabeça erguida cada dia que passa.
'Anjo da Guarda
Minha Companhia,
Guardai a minha Alma,
De Noite e de Dia'
Quando estiver pronta para ir para 'casa', dê-me um SINAL.